Maria da Conceição Mendes da Silva é uma mulher negra de 42 anos. Ela mora em uma ocupação em Paulista, cidade da Região Metropolitana do Recife, com dois de seus três filhos: Davi, 7 anos, que é autista, e Gabriel, 17 anos, que é autista e hiperativo.
Ela mora com dois de seus três filhos: Davi, 7 anos, que é autista, e Gabriel, 17 anos, autista e hiperativo. Mãe solo, está atualmente desempregada e cursou até o 1º ano do Ensino Médio
Mulheres negras são a pessoa de referência de 4 em cada 5 famílias que convivem com insegurança alimentar grave e são chefiadas por mulheres que cuidam de crianças
Conceição mantém a família apenas com o valor do benefício do Bolsa Família e não recebe nenhuma pensão alimentícia ou qualquer tipo de ajuda do pai das crianças.
Ela gostaria que os filhos tivessem acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), aposentadoria especial para pessoas que convivem com deficiência ou idosos com mais de 65 anos que não tiveram condições de contribuir com a Previdência Social.
a renda de conceição corresponde a 100% da renda familiar
Conceição destina grande parte da renda mensal à compra de medicamentos e itens para o cuidado dos filhos, e ao pagamento das parcelas do barraco que comprou na ocupação. Eventualmente, ainda precisa gastar com gás de cozinha. O restante é destinado à alimentação.
42% das mulheres negras chefes de família em situação de insegurança alimentar no Nordeste são beneficiárias do Bolsa Família
“As políticas emergenciais de combate à fome precisam ter as mulheres como prioridade. Elas precisam ser prioridade como pessoa de referência para receber o Bolsa Família, pois as pesquisas mostram que são elas que fazem a gestão da alimentação do lar.”
ADRIANA SALAY
historiadora e doutora em História Social
pela Universidade de São Paulo
Eventualmente, Conceição conta com a ajuda de membros da vizinhança e da igreja, que fazem pequenas doações em dinheiro para ela.
Duas vezes por semana, Conceição passa o dia na sementeira Esperança, um projeto que mantém uma horta agroecológica, de onde são retirados itens para o preparo das refeições servidas no local.
Há alimentos que Conceição só consome nos dias em que vai à Sementeira, como proteína animal, frutas, verduras, suco e iguarias típicas da culinária nordestina.
Ela também recebe, mensalmente, uma cesta básica da igreja que frequenta. Outros itens ela adquire em uma barraca próxima à sua casa, onde faz a compra para pagar no final do mês e, por isso, paga mais caro pelos produtos.
A Sementeira Esperança e a cesta básica garantem à família de Conceição uma alimentação com produtos in natura e minimamente processados. Para complementar, ela compra alimentos ultraprocessados, que são mais baratos e trazem maior sensação de saciedade, como mortadela e salsicha.
Acompanhamos a alimentação de Conceição por uma semana.
Em sete dias, Conceição consumiu:
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Exemplo de como Conceição se alimentou naquela semana.
Escolha uma das
histórias para começar
GERCINA
“Eu estou sempre comendo as coisas que produzo na terra e isso tudo é bom para minha saúde. Porque quem vai comprar na rua, compra cheio de agrotóxico e a [comida] que eu planto não tem nada disso”
CLAUDECIR
“A correria do dia a dia não me permite me alimentar muito bem. Eu como muita besteira. Não sou muito fã de fruta, que é coisa saudável.”
CONCEIÇÃO
“Se não fossem as doações que eu recebo, a alimentação ia ficar mais fraca ainda. É através delas que vêm o feijão, um pacotinho de leite, umas bolachinhas, que não dá para eu comprar”
LINDALVA
“ Eu não vou fazer comida para mim sozinha [no trabalho como doméstica], eu como lá qualquer coisa , às vezes faço um sanduíche, como uma tapioca’