Gercina Maria da Costa é uma mulher negra de 69 anos. Mãe de seis filhos, cursou até o 4° ano do Ensino Fundamental I.
Mora sozinha, mas abriga temporariamente seu filho de 44 anos, recém divorciado.
Agricultora familiar, ela vive desde 2005 em um assentamento na área rural de Paudalho, zona da mata de Pernambuco, onde cultiva alimentos para consumo próprio e de sua família.
O Nordeste é a região com maior participação de produtoras mulheres e mulheres negras na agricultura familiar. Pernambuco se destaca, superando a média da região.
Gercina é assentada da Reforma Agrária. Em 2004, ela e outras famílias ocuparam uma terra para cobrar do poder público que fosse destinada à reforma agrária. Em 2008, recebeu do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) o título de posse de uma área de sete hectares.
Ela cultiva um hectare com frutas, verduras e legumes em sistema de agrofloresta, forma de produção que combina espécies florestais com cultivos alimentares, sem o uso de defensivos químicos
“No Brasil, é necessário fazer reforma agrária. Temos uma das maiores concentrações de terra e de renda do mundo. Se a gente oferecer terra para essas mulheres, que são maioria na agricultura, vamos oferecer a possibilidade de produzir o próprio alimento e de gerar renda.”
ADRIANA SALAY
historiadora e doutora em História Social
pela Universidade de São Paulo
Mais da metade das famílias chefiadas por mulheres agricultoras está em algum nível de insegurança alimentar. 1 em cada 4 está em insegurança alimentar moderada.
Gercina recebe um salário mínimo da aposentadoria. Seu filho é beneficiário do Bolsa Família e repassa 2/3 do valor para os filhos, que moram com sua ex-esposa. Com o restante, ele complementa a renda da mãe.
a renda de gercina corresponde a 87% da renda familiar
Mesmo com a produção de alimentos para consumo próprio, as despesas de Gercina com alimentação chegam ao dobro da média de Pernambuco e do país.
As raízes, frutas e verduras que chegam à mesa são retiradas, quase diariamente, da agrofloresta em seu quintal, onde ela passa cerca de 4 horas por dia, pelas manhãs e depois do almoço. De lá, ela também extrai ovos e dendê para fazer azeite.
Gercina também recebe outros alimentos colhidos por seus vizinhos e compartilha com eles parte de sua produção.
Apesar de não depender apenas do supermercado para garantir comida de verdade na mesa, a agrofloresta demanda manejo constante. A autonomia alimentar é uma atividade central na rotina de Gercina
Acompanhamos a alimentação de Gercina por uma semana
Em sete dias, Gercina consumiu:
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refeições
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alimentos
Exemplo de como Gercina se alimentou naquela semana.
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histórias para começar
GERCINA
“Eu estou sempre comendo as coisas que produzo na terra e isso tudo é bom para minha saúde. Porque quem vai comprar na rua, compra cheio de agrotóxico e a [comida] que eu planto não tem nada disso”
CLAUDECIR
“A correria do dia a dia não me permite me alimentar muito bem. Eu como muita besteira. Não sou muito fã de fruta, que é coisa saudável.”
CONCEIÇÃO
“Se não fossem as doações que eu recebo, a alimentação ia ficar mais fraca ainda. É através delas que vêm o feijão, um pacotinho de leite, umas bolachinhas, que não dá para eu comprar”
LINDALVA
“ Eu não vou fazer comida para mim sozinha [no trabalho como doméstica], eu como lá qualquer coisa , às vezes faço um sanduíche, como uma tapioca’